sábado, 14 de junho de 2008

Homenagem


Porque hoje passaram 120 anos do nascimento do grande Fernando Pessoa, não podia, ainda que com 52 minutos de atraso, deixar esta data passar em branco.

Pela obra, pela vida e pelas mensagens que, aqui e acolá, nos vão influênciando e tocando a todos. Tenho ainda que referir que, a partir de hoje, Lisboa tem uma nova estátua de homenagem ao poeta, situada mesmo em frente à casa onde nasceu.

Como não posso fazer estátuas, deixo aqui um poema do seu heterónimo Álvaro de Campos, do qual gosto particularmente:


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!... (Nem o acho... ) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes... O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), O que eu sou hoje é terem vendido a casa, É terem morrido todos, É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ... Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim... Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui... A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


1 comentário:

Isa disse...

Eu juro k ñ m esqueci...Juro!
Foi apenas uma questão de prioridades...
Tá visto! O dia 13 de Junho para mim só tm coisas boas!
Já não bastava ter sido o dia em que o meu Nandinho veio ao mundo, ainda fui iniciar a minha caminhada rumo aquela coisa do "viveram felizes para sempre" nesse mm dia! É certo que entre os dois acontecimentos há um pikeno intervalinho de 118 anos...ms k importa!
Marcos históricos, são smp marcos!
E já o outro o cantava: "Eu tenho dois amores..." ;)