sábado, 3 de março de 2012

já não se escrevem cartas de amor como no 6º ano.


iam para o 6º ano quando ela soube da novidade: ele ia para os Açores. logo naquela altura em que tinham assumido que gostavam um do outro; logo naquela altura em que, na inocência da idade, ela finalmente tinha respondido ao bilhete dele com uma cruz no sim. ele tinha tentado, várias vezes, que ela assumisse. e mandava-lhe sempre a mesma mensagem, num papel rasgado de um qualquer caderno das aulas: "gostas de mim? sim [ ] não [ ] talvez [ ]." (ela tinha um feitio!!!! e dizem que, ainda hoje, não gosta muito de dar o braço a torcer). naquela altura acedeu.

chegaram as férias grandes. e recomeçaram as aulas. novo ano e a ausência dele na turma. "não tem mal",pensava ela. tinham jurado ser fiéis e escreverem-se sempre. e era engraçado porque, na escola primária, a professora tinha eleito a letra dela como a mais bonita da das meninas e a letra dele como a mais bonita da dos meninos. (ainda que ela gostasse mais de escrever e ele de desenhar).

prometeram e cumpriram: assim que chegou a primeira carta o coração dela bateu e sorriu ao mesmo tempo. precisava de a abrir num espaço onde ninguém pudesse ver a sua reacção e, por isso, escondia-se no quarto. tinha uma vergonha boa! ele escrevia coisas tão bonitas! e prometia fidelidade; e desenhava uma boneca que era, no fundo, a maneira como ele a via. (ohhhhh!) apesar de super maria-rapaz ela não deixava de ficar enternecida. e ele conseguia descobrir a parte mais sensível e feminina dela por entre todos os jogos de futebol, computador, malha, skate, bicicletas e afins. e ela...bom... respondia-lhe à altura.

foi assim durante muito tempo. até que...ele voltou! eram mais velhos e os juramentos tinham terminado. acabaram por se apaixonar (achavam eles) por pessoas diferentes. mas tudo bem. continuavam amigos, sem qualquer tipo de ressentimentos. (afinal, estavam ainda numa idade em que a sinceridade era o mais importante e nenhum dos dois sabia mentir para iludir o outro ou, simplesmente, para seu bel-prazer). era assim que tinha de ser.

ele regressou e passado uns tempos começou a andar com a melhor amiga dela. e ela nunca deu importância. por isso é que não percebeu porque é que, passados quase 10 anos, ele entrou num sonho onde os dois eram felizes...juntos!

"realmente! estes sonhos...que estupidez!!!", pensou ela assim que acordou. mas aquilo ficou-lhe na cabeça. "de qualquer das formas", pensou, "o que importa aqui no meio é que já não se escrevem cartas de amor como no sexto ano!". true story*

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