nunca tinha conseguido pertencer a um lugar. ou a uma pessoa de quem gostasse, de facto. porque, para ela, os lugares e as pessoas tinham uma coisa em comum: afastavam-se.
ainda se lembrava da primeira vez que isso aconteceu com uma pessoa. andava no sétimo ano. tal como ainda se lembra de o ter recordado, em voz alta, dentro daquelas paredes. ele estava na varanda. atento e a fumar. apareceu-lhe de surpresa. conversaram mais do que muito. ela confidenciou-lhe mais do que era suposto. para logo de seguida ele se ir embora.
dentro daquelas paredes. onde viveu tanto. ultrapassou muito e estava pronta a confiar. de novo. e sonhou ser tudo. e esteve quase a ser. quase. nova personagem, mesmo argumento. e, às tantas, já ela não sabia dele. só das reticências.
dentro daquelas paredes. junto aos móveis. onde colocou fotografias e pretendia colocar muitas mais. queria encher a casa de caras. das caras que lhe eram familiares. que estavam com ela nas noites menos fáceis. acabou por nunca acontecer. mas ela esteve quase. quase.
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