terça-feira, 27 de setembro de 2011

algures à noite.

conferia uma leveza às coisas sem fazer por isso. às vezes podia parecer contraditório dado que ele era, apesar de tudo, um homem duro e com um rosto tão carregado pela guerra, como pela família que trazia em ombros. 
era um homem de respeito e que não permitia que as coisas saíssem do lugar. o certo era sempre certo e o errado correspondia sempre ao errado. não se misturavam, não se confundiam... estava tudo muito bem definido. 
ela sabia o que não fazer para manter uma relação saudável com ele. embora, não raras vezes, pisasse o risco. e, ao que parece, chegou mesmo a tentar ir mais além. mas ele estava lá e não permitiu. era duro com os fracos e era assim que tinha de ser.
era o porto de abrigo da família. e o porto seguro, também, uma vez que todos sabiam que enquanto ele estivesse as peças estariam todas no lugar. engraçado como a guerra - que lhe foi difícil de aguentar - não fez com que perdesse a alegria de viver ou com que se tornasse ríspido e amargo com os demais. engraçado como tinha sempre vontade de pregar partidas e como o fazia sempre de um modo inteligente e não corriqueiro. era único, original e divertido. era também muito distraído. perdia o controlo das coisas em 5 segundos. aconteceu-lhe muito isso com a neta mais velha. irrequieta e com vontade de fazer-mais-isto-e-mais-aquilo, mudava de lugares com muita perspicácia. e ele perdia-a. e depois a mulher ficava em ânsias "meu Deus, Lino! não sabes da menina?" 
ele podia perdê-la de vista por uns instantes, mas jamais a perdia do coração. ainda hoje consta que o orgulho que têm um no outro é de uma tal dimensão que não há céu que os separe ou os faça esquecer tudo o que viveram juntos.
era assim o meu avô.

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