segunda-feira, 19 de abril de 2010

intimidades.

E ela bem lhes tinha dito que não queria que lhe falassem na palavra. Ouviu-a, pela primeira vez, quando tinha 4 anos e ficou-lhe sempre no coração de um modo que não percebia, que não deslindava, que se confundia.

"O que sentimos uns pelos outros é amor", dizia-lhe a mãe.

"Mas o que tu sentes pelo pai não é, também, amor?", retorquia ela.

"É", respondia prontamente a progenitora, "Só que é diferente".

E assim ficou. Foi a primeira vez. E ela quis experimentar... mas para isso tinha de saber onde ele estava, onde podia, afinal, encontrar o amor. Procurou debaixo das pedras, desenhou o que achava que era parecido com ele, olhou para debaixo da cama, mas nada. Não o encontrou. A sua pura inocência não a deixava ver que ele estava mesmo ali, morava com ela em sua casa, estava no seu quarto, PARTILHAVAM a mesma cama! E houve um dia que ela se quis pôr à prova. E foi, sozinha, para fora do país. E foi aí que o encontrou numa das suas mais belas formas. Ah, a falta que lhe faziam os pais, o irmão, os amigos e, até, estar sentada no sofá, à lareira, a ver os seus programas favoritos. E fazia-lhe confusão, não sabia bem porquê, sentir que o seu irmão estava a crescer e ela não estava lá, que os seus amigos continuavam as suas vidas e ela não estava lá... E foi aí que pensou: "Cá está ele! De várias formas! O amor é não poder viver sem as pessoas que gostam de nós..."

Passado uns tempos conheceu-o. Mas não queria, nem fazia muita questão de conhecer. Mas ele fez. E fez tudo como tinha de ser até ela se sentir encantada. E ela sentiu... Mas teve medo e não quis escolher aquele caminho. Seguiu em frente.
E passaram-se meses... e ela vazia, como um armário fica quando as pessoas mudam de casa. Até que... se voltaram a encontrar! Ele puxou-a pelo braço e ela sentiu qualquer coisa diferente, não sabia explicar... E aquilo ficou-lhe.

Hoje continua a dizer que não quer que lhe falem do amor. Mas hoje ela sabe também que ele não está debaixo da cama, das pedras ou nos ramos das árvores. Às vezes pode muito bem estar perto de nós e nós, atarefados com a vida e com comportamentos egoístas, nem sequer nos apercebermos.

Ela ainda não sabe se é ele. Mas gostava muito de tentar. E esse é já o começo.